News Release 2141 : O MOTOCICLISTA E A GNR-BT

Cidade do Porto, 05.12.2005, Semana 49, Segunda-Feira, 14:00 - [Crónica Digital] Edita-se nesta News Release, o texto de uma Crónica Digital, assinada por Luís Moreira.

O MOTOCICLISTA E A GNR-BT

Há semanas atrás, numa das crónicas que editei, disse que iria descrever em algumas crónicas futuras, algumas tristes e hilariantes histórias, que in loco, presenciei durante os vários anos em que, como socorrista, ajudei muitos a não morrer nas nossas estradas.

Entre 1988 e 1992, estive no Algarve a trabalhar como Técnico de Vendas, o que me fez fazer dezenas de milhares de quilómetros, nas mais mais de 130 viagens entre o Porto (minha residência) e Almancil, via Lisboa e Fátima, local onde se encontrava a empresa, de que eu era responsável, no sul do país. Entre imensas deslocações de trabalho, eis que num dia, da parte da tarde, tinha que ir a Portimão e Lagos, pois os engenheiros da Soares da Costa, Abrantina e Engil, em obras diferentes, aguardavam a minha visita, semanal para uns e pedida por outros.

Então, ao fim da manhã, lá parti de Almancil, com destino a Albufeira, como primeiro escala do dia e depois de passar as famosas bombas de gasolina, do pai do ex-primeiro-ministro Cavaco Silva, enquanto conduzo, vejo na berma da estrada, um homem já com uma certa idade, que mal consegue estar de pé, de alcoolizado que estava. Junto dele, estava um dos dois agentes da GNR-BT. Parei o meu Citroën AX, e perguntei se este nosso amigo se estava a sentir mal. Vi que a sua moto estava caída na berma, o seu capacete pendurado no braço e não colocado na cabeça e refilava, refilava. O agente da GNR-BT, depois de o cumprimentar, - já me conhecia, pois já tinha estado noutros acidentes em que ele também estivera presente-, disse-me que o mandaram parar, pois a sua condução na berma era condizente com o seu estado de embriaguês, em que circular a direito era o que menos fazia, e o capacete ia pendurado no braço, o que também era infracção ao código da estrada. Bem tentaram os dois agentes, levar este nosso amigo para o posto, mas ele, que se recusava, por todos os meios, em sair donde estava. Com o meu colete vestido, praticamente igual ao da GNR-BT, lá tentei explicar ao senhor, que era melhor ir, pois podia descansar, depois alguém da sua família o iria buscar, e que estar a ofender com palavrões e não admitir que estava embriagado e não querer pagar a multa, era um comportamento nada adequado.



Pois sim, disse-me então que ia com a GNR-BT no carro deles, presenciando esta conversa o agente que ao meu lado estava. Diz então o agente, está a ver, não lhe queremos fazer mal, apenas o queremos levar, porque o senhor não está em condições de caminhar, quanto mais conduzir uma mota. Mal disse isto o agente, eis que o nosso amigo, aí com uns 60 e tal anos, dispara um valente pontapé no agente que a meu lado estava, esfolando a perna junto ao joelho, imediatamente tento que o senhor não repita outra vez o gesto, pois preparava-se para pontapear outra vez o agente ou eu, que a seu lado estava. O outro agente, que estava no carro, vem ter connosco e lá tentam levar o senhor, ele no entanto esperneia, vai insultando os agentes, um dos homens da Brigada, depois de tanto perder a paciência, pede-me para lhe segurar o chapéu e lá tentam meter este algarvio no carro a todo o custo, mas ele que não entra, afastando as pernas, recusando-se a entrar.

No entanto, carros vão passando na EN125 e alguns condutores abrandam e em gozo, lançam bocas de ocasião, contra este nosso amigo. Eis que é chamada uma nova patrulha, e mal chega, os dois novos agentes, lá ajudam os colegas e metem este rijo senhor dentro do carro da GNR-BT e lá arranca em direcçcão a Faro a toda a velocidade. Enfim, dos 4 agentes, 3 lá partiram no carro e outro ficou junto da mota, no local onde tudo aconteceu. Despedi-me do agente, certo de que em breve, talvez nos encontrariamos num acidente, se calhar com mortos ou feridos, infelizmente. Este, que acabava de presenciar, não tinha tido mortes, apenas um momento dramático para este senhor, que quis complicar, mas que protagonizou um dos "espectáculos de estrada" mais hilariantes que presenciei, nos mais de 300 acidentes em que estive presente ao longo desses anos. Um dos mirones que presenciou tudo, disse-me assim "Ele, lá no posto, vai levar poucas, vai" Rimo-nos os dois, e lá partimos, cada um para o seu destino. Noutra crónica futura, mais histórias contarei.

Boa Semana para todos.
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Luís Moreira é empresário* e Autor e Director do THE PORTUGAL DIGITAL JOURNAL e assina esta crónica semanalmente à segunda-feira.


Luís Moreira

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