Cidade do Porto, 17.01.2006, Semana 03, Terça-Feira, 19:30 - [Religião] “O factor da globalização tem sido, para nós, negativo em relação ao factor da pobreza”, afirmou o Pe. Agostinho Jardim Moreira, Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal(REAPN) ao comentar os últimos dados estatísticos da Eurostat que apontam Portugal como o país que continua a ser o mais pobre da União Europeia, segundo informa hoje a Agência Ecclesia.
Segundo o responsável em Portugal desta Associação de Solidariedade Social, o facto de muitas empresas se deslocarem para outros países, “tem prejudicado muitas das nossas empresas e o desemprego tem aumentado”, explicou à Agência ECCLESIA. “O desemprego leva a que muitas famílias percam a capacidade de compra – continua – e muitas famílias baixam a sua qualidade de vida”, referiu.
De acordo com os dados apresentados o fosso existente entre ricos e pobres continua a aumentar, uma situação que se deve, segundo o presidente da REAPN em Portugal, a “desequilíbrios e influências económicas”, esclareceu. “Quando as pessoas têm dinheiro tiram-no do país e Portugal continua a ficar com mais debilidades”, salientou.
Outro factor a ter conta para explicar estes resultados da Eurostat refere-se à desertificação do interior que, explica o Pe. Agostinho “leva a que grande parte das famílias que vivem no interior e os idosos fiquem cada vez mais pobres”, reforçou.
“As pessoas que fogem do interior e vêm para a cidade criam uma cintura à volta das grandes cidades portuguesas, como é o caso de Lisboa, Porto e Gaia – explica o sacerdote – onde a pobreza começa a ficar cada vez mais sentida pela sua incapacidade de poder pagar as suas despesas”, sublinhou.
Perante este panorama em que se assiste a um aumento de pobres em Portugal este responsável da REAPN considera que para resolver esta situação seria necessário proceder a “uma distribuição equitativa da riqueza” o que seria possível se todos cumprissem os seus deveres de cidadania. Por um lado, refere, “há a incapacidade de recolher os impostos”, e por outro continua-se o “colocar o dinheiro no estrangeiro quando se vê que são aplicadas as leis da fiscalidade. Isto é uma questão de lealdade e cidadania nacional porque, enquanto o egoísmo superar o sentido do bem colectivo e do bem nacional teremos estes dois buracos que não são fáceis de resolver”, lamentou.
Portugal é também o país que tem a maior taxa de abandono escolar da União Europeia, um facto que “está directamente associado ao fosso económico existente entre ricos e pobres”, disse o Pe. Agostinho Jardim Moreira. “As pessoas não tem tempo para acompanhar os filhos porque tem de encontrar trabalho – constatou - e além do trabalho tem de arranjar outros escapes para poder encontrar resposta para as necessidades da família. Por isso os filhos ficam muitas vezes na rua”, disse.
Outro factor está associado ao facto de que “a maior parte destas pessoas vivem em famílias não estruturadas, ou pela imigração, ou pelo divórcio, ou pelo nascimento fora do casamento”, acrescentou.
Luís Moreira
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